Mê querido filho, Ponho-te estas poucas linhas para saberes que estou viva. Escrevo devagar por que sei que não gostas de ler depressa.
Se receberes esta carta, é porque chegou. Se ela não chegar, avisa-me que eu mando-te outra.
Tê pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorrem a 1km de casa. Assim, mudámo-nos para mais longe.
Sobre o casaco que querias, o tê tio disse que seria muito caro mandar-to pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim arranquei os botões e puse-os no bolso. Quando chegar aí, prega-os de novo.
No outro dia, houve uma explosão na botija de gás aqui na cozinha. O pai e eu fomos atirados pelo ar e saímos fora de casa. Que emoção: foi a primeira vez em muitos anos que o tê pai e eu saímos juntos.
Sobre o nosso cão, o Joli, anteontem foi atropelado e tiveram de lhe cortar o rabo, por isso toma cuidado quando atravessares a rua.
Na semana passada, o médico veio visitar-me e colocou na minha boca um tubo de vidro. Disse para ficar com ele por duas horas sem falar. O teu pai ofereceu-se para comprar o tubo.
Tua irmã Maria vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é menino ou menina, portanto não sei se vais ser tio ou tia.
Ah, já me esquecia: se o bebé que a tua irmã vai ter for menina, a tua irmã vai a chamá-lo como eu. Ela chamará mamã à tua irmã.
O teu irmão António deu-me muito trabalho hoje. Fechou o carro e deixou as chaves lá dentro. Tive que ir a casa, pegar a suplente para a abrir. Por sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava em baixo.
O teu primo Manel casou-se e acontece que reza todos os dias à esposa porque é Virgem.
O clima não está mau. A semana passada só choveu duas vezes: a primeira vez durante três dias e a segunda durante quatro.
Nê segunda-fêra teve tanto vento que uma das galinha pôs o mesmo ovo quatro vezes.
O Tê ti Patricio, o Alarga-a-velha, afogou-se a semana passada num depósito de vinho, lá na adega da cuprativa, alguns compadris tentaram salvá-lo mas sabes, ele lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado mas levou três dias pra apagar o incêndio.
Quem nunca mais vimos por cá é o tio João Carlos, aquele que morreu o ano passado.
Se vires a Dona Esmeralda, diz-lhe que mando lembranças. Se não a vires, não digas nada.
Tua Mãe Marta
PS: Era para te mandar os 100 euros que me pediste, mas quando me lembrei já tinha fechado o envelope.
4 comentários:
Uma carta de mãe com muitas saudades do filho, que vai dando noticias da sua terra.... bue fixe
cump
esta tb merecia um hora do bau
Oh God!!!
"Nê segunda-fêra teve tanto vento que uma das galinha pôs o mesmo ovo quatro vezes." Lindo! eh eh eh! Só de imaginar até choro!!!
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