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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Tudo dito

"Era uma vez, numa terra sem rei chamada Portugal, uma pedra. Essa pedra tinha uma espada. A espada tinha uma lenda. Ora, rezava esta, mitigada por distintos visionários e mercadores, que quem conseguisse arrancar a espada da pedra, feito inatingível para o homem comum, seria rei. Tal tarefa poderia somente, pois, ser executada por uma alma dotada de incrível dom de liderança e grande habilidade, capaz de domar os mais bravos mares e guiar os guerreiros combalidos pelos trilhos até aí desconhecidos da glória.
Vieram desde longínquas terras até Portugal vários espíritos repletos de ambição e vontade, ansiosos por elevar da firme pedra a tão desejada espada. Muitos tentaram, nenhum concretizou tal desígnio. Veio o Luiz, intentou o Carlos, fracassou o Paulo. Muitos mais chegarão a Portugal e procurarão levantar lusa Excalibur, contudo, nenhum conseguirá até que outro feito, nunca contado mesmo pelas mais obscuras e sábias lendas, seja alcançado.
E que feito é esse, perguntas tu, meu jovem e sonolento leitor que aguarda que eu termine por fim esta história para poder fechar o livro e cair em profundo e mágico sono? Conto pois, para apenas tu ouvires, que não é nossa terra Inglaterra e não é este o conto do Rei Artur — pelo que o segredo para ser soberano não se resume a arrancar a espada. Pois o mal desta terra, que a mantém sem rei nem roque, está na pedra que agarra com pardacentas garras a arma e a prenderá, inacessível à honra e dignidade, a não ser que um homem nobre e elevado compreenda que para se fazer com a espada e ser rei há que primeiro destruir a pedra.
Não sendo isso feito, poderão vir Fernando, Vítor, Rui ou qualquer cavaleiro de nome estrangeiro, que nunca Portugal se erguerá. Era uma vez, numa terra sem rei chamada Portugal, uma pedra. Essa pedra tinha uma espada. A espada tinha uma lenda. A verdade estava na pedra."

Inês Sampaio in Visão de Mercado

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